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UM APELO PELA CONSERVAÇÃO DOS MEROS NA FLÓRIDA

EUA querem reabrir a pesca dos meros na Flórida, mas você pode auxiliar nas ações de preservação entendendo o que acontece por lá e assinando uma petição para a manutenção da moratória de pesca

Na década de 1980 os meros estiveram próximos da extinção nos Estados Unidos devido à intensa pressão de pesca sobre a espécie. Da mesma forma que no Brasil, os meros sempre foram muito cobiçados na Flórida devido ao grande porte, presença de grandes cardumes reprodutivos e comportamento dócil, sendo frequentemente considerados valiosos troféus de pescaria.

Em 1990, devido ao grande declínio da espécie, o governo americano criou leis federais e estaduais de proteção aos meros, proibindo sua captura. Desde então, as populações de meros no estado da Flórida têm apresentado uma lenta recuperação.

O fato auxiliou no desenvolvimento do ecoturismo agregando valor econômico à diversos segmentos nas últimas três décadas. Mergulhadores locais e de outros países passaram a procurar a Flórida em busca da oportunidade de encontrar a maior espécie de garoupa do Atlântico. O desenvolvimento dessa atividade tem ajudado a estabelecer um valor comercial para os meros, em um mercado sustentável, que não implica na morte dos mesmos.

 @ Walter Stearns

Alguns pescadores que testemunharam a problemática da iminente extinção na década de 1980, consideram a recuperação da espécie um ganho para todo o ecossistema marinho. Outros, porém, que passaram a acompanhar o aumento da abundância de meros apenas recentemente, consideram o peixe uma espécie invasora. Ou seja, acreditam que os meros competem com outras espécies tomando conta dos habitats, e veem na pesca uma maneira de controlar o aumento das populações de mero.

É esse segundo grupo, que com o apoio da Florida Fish and Wildlife Conservation Commission (FWC) e do National Marine Fisheries Service (NMFS) quer reabrir a pesca dos meros na Flórida ignorando dados gerados por anos de pesquisa na área e as últimas três avaliações de estoque feitas nas populações locais por estes mesmos órgãos governamentais. Além disso, as populações de meros em toda a sua área de distribuição no Oceano Atlântico são consideradas ameaçadas de extinção pela União Internacional para a Conservação da Natureza – International Union for Conservation of Nature (IUCN).

Os argumentos para a reabertura da captura abordam os prejuízos sofridos com a perda de equipamentos de pesca, como anzóis, quando um mero fisga acidentalmente a isca destinada à outro peixe. Também citam o perigo que a espécie ofereceria aos mergulhadores, mesmo não havendo nenhum registro que demonstre que são peixes agressivos. Ainda, atribuem aos meros a redução das populações de garoupas e caranhas nos recifes, ignorando que se alimentam principalmente de crustáceos e peixes lentos associados ao fundo do mar.

Em contrapartida, os pesquisadores da Universidade do Estado da Flórida, Christopher Koenig, Felicia Coleman e Christopher Malinowski, parceiros do Projeto Meros do Brasil, que se dedicam há décadas ao estudo dos meros, escreveram um artigo científico, publicado em 2019 na internacionalmente reconhecida revista FISHERIES Magazine intitulado “Meros da Flórida: Pescar ou Não Pescar?” que, além de desconstruir os argumentos acima, expões as inúmeras desvantagens do reestabelecimento da pesca de meros.

 “Os meros têm um potencial de crescimento na economia do estado e deveriam, ao lado das tartarugas e dos mamíferos marinhos, ser permanentemente protegidos” Chris Koenig

No artigo, os pesquisadores explicam que o trabalho para recuperar as populações de meros é lento porque enfrenta adversidades naturais como a maré vermelha e ondas de frio – eventos episódicos que podem levar ao declínio das populações –, e também estragos ocasionados pela interferência humana, como a destruição de áreas de manguezal – mundialmente estima-se que 30 a 50% dos habitats de manguezal estejam comprometidos – que são ocupadas pelos meros até os primeiros seis anos de vida e por isso essenciais ao seu desenvolvimento.

Outros fatores como os efeitos da contaminação por mercúrio – que pode acontecer por meio do consumo de peixes infectados causando graves danos à saúde, principalmente no sistema nervoso central –, e o colapso das agregações pela sobrepesca, são considerados cruciais para manutenção da moratória de pesca por tempo indeterminado. É o que aponta o artigo liderado pelo pesquisador Chris Koenig, que alerta ainda para o fato de que se a reabertura realmente acontecer, a população de meros nos EUA será extinta rapidamente.

Segundo o artigo, as agregações reprodutivas dos meros, ocorrem em locais previsíveis, tornando a população que ali se encontra vulnerável e facilitando a captura. A pesca em uma agregação poderia perturbar o sistema de acasalamento, o processo de mudança de sexo e esgotar as matrizes (peixes com maior capacidade reprodutiva) levando rapidamente ao colapso da espécie.

Já, no caso da contaminação de meros por mercúrio, conforme exposto pelos autores, existe um risco real e comprovado à saúde humana. Inclusive, instituições americanas responsáveis por alertar a população sobre o consumo de alimentos tóxicos, desaconselham ingerir peixes como meros, cuja carne possui altos níveis da substância. Daí, o questionamento exposto no artigo: Porque liberar a pesca, sabendo que o consumo de mero pode ser prejudicial à saúde da população?

 Assista o vídeo sobre contaminantes na Flórida. 

A título de comparação, um estudo ainda em curso, iniciado em 2018 pelo Projeto Meros do Brasil patrocinado pela Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental, com amostras de meros apreendidos em diversas partes do país, já aponta para concentrações de metais pesados em meros muito acima dos valores seguros para consumo humano.

Outro fator que aponta contra a abertura da pesca é que a extinção da espécie das áreas recifais promoverá desequilíbrio neste ecossistema. Ao contrário do que se tem propagado, estudo científicos mostram que um maior número de meros nos recifes contribui com o aumento da abundância de peixes de outras espécies e também da variedade de espécies nesse ambiente. O que é bom, tanto para o ambiente, quando para quem depende ou realiza atividades como a pesca.

Baseado nestes argumentos, com o apoio das operadoras de mergulho da Flórida, dos pescadores mais antigos e dos demais segmentos envolvidos com o ecoturismo, para fazer frente à tentativa de reabertura da pesca, Chris Koenig criou um abaixo-assinado online apelando aos gestores de recursos naturais que o paradigma dos meros seja modificado.

“A ideia é deixar de pensar na espécie como um recurso pesqueiro para que ela vire definitivamente um recurso não-extrativo com um valor comercial muito maior do que o ganho com a pesca representa” explica Chris. Para o pesquisador, “Os meros têm um potencial de crescimento na economia do estado e deveriam, ao lado das tartarugas e dos mamíferos marinhos, ser permanentemente protegidos”.

 Pesquisador Dr. Chris Malinowski remove artefato de pesca preso na garganta de um mero na Flórida.

Você também pode ajudar a preservar os meros na Flórida assinando a petição. Já são quase 2.000 apoiadores e a intenção é atingir a marca de 1 milhão de assinaturas para mostrar o suporte da população à restauração dos mangues no sul da Flórida e à proteção dos meros por tempo indeterminado. Lembre-se, o oceano não tem fronteiras. Seja do Brasil, ou dos Estados Unidos, podemos unir forças na conservação dos meros em todo o Atlântico.

 

 

Leia na íntegra o artigo escrito pelos pesquisadores americanos e  conheça o trabalho de conservação desenvolvido pelo Coastal and Marine Lab da Universidade Estadual da Flórida.

 

 

 

 

 

 

 

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