Ainda não sabe a qual família o mero pertence?
Serranidae ou epinephelidae? Essa discussão permeia o mundo científico da ictiofauna há algum tempo. Mas, se você não tem ideia do que os termos significam, ou se ainda não sabe qual é a família do mero, tentamos esclarecer a questão nesse breve texto.
Há pouco tempo, os peixes, que hoje são classificados como família Serranidae ou Epinephelidae, pertenciam todos à primeira família por causa de uma característica morfológica marcante, o pré-opérculo serrilhado (uma estrutura óssea, que fica próxima ao opérculo, cuja margem é como uma pequena serra).
Essa história mudou em 2007. Naquele ano, os pesquisadores Matthew Craig e Philip Hastings realizaram um estudo filogenético, ou seja, baseado na história evolutiva de diferentes espécies, para entender as relações de parentesco dos peixes (Craig & Hastings, 2007).
A dupla buscava confirmar a existência de um ancestral comum para a família Serranidae, olhando além das características externas dos peixes, como o pré-opérculo.
Desta maneira, a pesquisa foi realizada com base em análises genéticas, e em sua conclusão mostrou que esse antecessor não existia, resultando no agrupamento de algumas espécies sob a família Epinephelidae (Craig & Hastings, 2007), incluindo aí o mero (Epinephelus itajara).
O opérculo é uma estrutura óssea que fica ao lado da cabeça do peixe e é responsável pela proteção das brânquias. O pré-opérculo serrilhado é uma estrutura parecida, que fica próxima ao opérculo. Serrilhado porque a margem desse osso é como uma pequena serra.
Como assim, o mero mudou de família?
Reclassificações não são incomuns, e para acompanhá-las é preciso estar de olho nos artigos científicos que são fontes constantemente atualizadas sobre o assunto.
De acordo com Áthila Bertoncini, oceanógrafo, doutor em Ecologia e coordenador científico do Projeto Meros do Brasil, patrocinado pela Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental, isso acontece porque a sistemática – área que estuda a descrição das espécies e apresenta sua classificação – está em constante mudança pela frequente descrição de novas espécies, e também pela evolução da ciência.
“À medida que novas tecnologias são desenvolvidas, avançamos no conhecimento. Antigamente os peixes eram classificados essencialmente pela sua morfologia (características físicas como o pré-opérculo serrilhado, quantidade de ossos, tamanho e proporções do corpo, coloração, manchas, etc.), agora, as ferramentas genéticas apresentam particularidades impossíveis de definir olhando apenas para sua ‘forma’”, salienta Áthila.
No caso das famílias Serranidae e Epinephelidae, a genética mostrou que a ancestralidade desses peixes era distante, gerando a divisão. Assim, em linhas gerais, atualmente as pequenas garoupas continuam classificadas como Serranidae, e as grandes como o mero, chernes e badejos, são consideradas família Epinephelidae.
Confira abaixo uma pequena lista com algumas espécies classificadas como Serranidae ou Epinephelidae.
Serranidae
Mariquita (Serranus flaviventris)
Guatacaré (Serranus atrobranchus)
Senhor-do-engenho (Acanthisthius brasilianus)
Epinephelidae
Mero (Epinephelus itajara)
Badejo quadrado (Mycteroperca bonaci)
Cherne-poveiro (Polyprion americanus)
Crédito imagem de capa: Leonardo Bueno
Craig, M., Hastings, P. (2007) A molecular phylogeny of the groupers of the subfamily Epinephelinae (Serranidae) with a revised classification of the Epinephelini. Ichthyol Res 54, 1–17. https://doi.org/10.1007/s10228-006-0367-x