Cientistas do Projeto Meros do Brasil publicam estudo sobre interações de limpeza com os meros e reforçam importância ecológica da espécie para a saúde do oceano
Você sabia que até os maiores peixes do oceano precisam de ajuda para se manter saudáveis? Parte dessa saúde vem da “limpeza” e quem já viu o filme O Espanta-Tubarões, sabe como ela é feita.
Na animação da DreamWorks Oscar, trabalha em um “lava-rápido” submarino, onde peixes limpadores removem parasitas e sujeira de peixes maiores como se fosse um serviço de estética. A obra transforma esse comportamento natural em humor, mas reflete essa relação real do oceano: peixes limpadores ajudam a manter outros peixes saudáveis, evitando doenças e fortalecendo o equilíbrio ecológico do recife. Mas será que existe um limpador para a maior garoupa do oceano Atlântico?
Publicado recentemente na revista Neotropical Ichthyology, o artigo “Who dares to clean the Atlantic goliath grouper? Ecological relationships involving Epinephelus itajara” investigou quais peixes assumem o papel de limpadores desse gigante ameaçado. O estudo foi conduzido por José Anchieta, supervisor de pesquisa do Projeto Meros do Brasil, patrocinado pela Petrobras e Governo Federal por meio do Programa Petrobras Socioambiental, e buscou responder exatamente a essa pergunta.
O que descobrimos?
Para identificar as espécies envolvidas nessa relação ecológica, os autores recorreram a diferentes fontes: revisão de literatura, bancos de dados científicos e, de forma inovadora, uma ampla busca em mídias sociais, de onde veio a maior parte dos registros.
No total, nove espécies de peixes recifais foram observadas limpando diferentes partes do corpo do mero. As mais frequentes foram a rêmora (Echeneis naucrates) e o bodião-espanhol (Bodianus rufus). A maioria dessas interações envolvia meros adultos, principalmente em naufrágios, que costumam servir como abrigo para a vida marinha.
Desafios da pesquisa
Registros dessa interação de limpeza com os meros são raros, e os autores apontam algumas possíveis razões para isso. A baixa densidade populacional da espécie — consequência histórica da sobrepesca e da degradação de habitats — reduz as chances de observação. Além disso, muitos desses comportamentos são discretos, especialmente quando as rêmoras permanecem aderidas ao corpo do peixe, dificultando sua identificação. Ainda assim, mesmo sendo sutis, as interações de limpeza desempenham um papel essencial para a saúde dos meros e para o equilíbrio de todo o ecossistema recifal.
Por que esse assunto importa para a conservação?
O estudo evidencia que o mero desempenha um papel ainda mais importante do que se imaginava: além de ser beneficiado pelos peixes limpadores, ele próprio atua como um agente de limpeza ao atrair e sustentar essas interações, contribuindo para a saúde geral do recife. Essa função reforça seu valor ecológico e mostra que preservar o mero significa também proteger todo o conjunto de espécies e relações que dependem dele para manter o equilíbrio desse ecossistema.
A pesquisa na íntegra está disponível na revista Neotropical Ichthyology e você pode acessá-la clicando aqui. Os autores do estudo são: José A. C. C. Nunes, Áthila A. Bertoncini, Daniela P. Coelho, Yuri Costa, Leonardo S. Bueno, Márcio J. C. A. Lima-Jr, Johnatas Adelir-Alves, Jonas R. Leite, Maíra Borgonha, Manoela Leitão, Igor E. G. Pinheiro, Sabrina S. Palma, Lucas C. Ribeiro, Sara B. Kennedy, Matheus O. Freitas, Maurício Hostim-Silva, Cláudio L. S. Sampaio.

Crédito das fotografias: Áthila Bertoncini