Você já se perguntou como é possível saber a idade de um peixe? A resposta está bem guardada… dentro da cabeça dele. Os otólitos, ou “pedras do ouvido”, são pequenas estruturas calcificadas localizadas no ouvido interno dos peixes com espinhos – ou seja, peixes ósseos (excluindo raias, tubarões e quimeras).
Essas estruturas biomineirais, formadas principalmente por carbonato de cálcio, funcionam de forma parecida com os ossículos do ouvido interno humano, ajudando no equilíbrio e audição. Todos os peixes ósseos possuem três pares de otólitos: sagittae, lapillus e asteriscus, cada um com tamanho e função diferentes. O sagittae geralmente é o mais usado para identificar a idade por ter anéis de crescimento bem visíveis — mas em algumas espécies, como os bagres, o mais indicado é o lapillus.
Assim como as árvores formam anéis com o passar do anos, os otólitos registram o crescimento do peixe em camadas alternadas de deposição de material claro e escuro, e cada anel representa, geralmente, um ano de vida. Ou seja, a cada ano, um novo par é depositado sobre o par anterior, e o otólito “cresce” formando uma estrutura em camadas em torno de um núcleo, semelhante à uma cebola.
Para enxergar todos esses detalhes, os otólitos precisam ser preparados. Primeiro, são limpos com água e guardados secos. Depois, são cortados ao meio revelando os anéis de crescimento que estão no seu interior. Por fim, a contagem dos anéis é feita com o auxílio de um microscópio. Nos peixes bem pequenos (ainda na fase larval e juvenil) também é possível estimar o crescimento diário. Sim, dia a dia são formados anéis nessa fase!

Apesar dos otólitos serem as estruturas mais utilizadas (e com resultados mais precisos) para estudar a idade em peixes, outras partes como os espinhos e raios das nadadeiras, escamas, vértebras (principalmente em tubarões) e até mesmo a lente dos olhos (ou cristalino) também podem ser utilizadas. O Projeto Meros do Brasil, patrocinado pela Petrobras e Governo Federal por meio do Programa Petrobras Socioambiental, vem utilizando os espinhos coletados das nadadeiras dos meros como uma forma não letal de determinar a idade desses peixes.
Mesmo para quem pesca por lazer, entender como funciona esse processo ajuda a valorizar ainda mais o mundo aquático. A idade dos peixes é uma peça-chave para compreender sua reprodução, crescimento, migrações e até seu papel no ecossistema. Ao conhecer melhor o ciclo de vida dos peixes, podemos pescar de forma mais consciente, respeitando os períodos reprodutivos e os tamanhos mínimos de captura, ajudando assim a preservar nossos recursos naturais.
Texto: Daniel Lippi
Crédito foto de capa: Maíra Borgonha