Sabe aquela sensação de ver de perto algo que você estuda há muito tempo, mas que parecia existir apenas em imagens, artigos e histórias alheias? Foi exatamente esse misto de espanto e entusiasmo que Marina Custódio Nascimento, supervisora de pesquisa do Meros no Rio de Janeiro, viveu ao encontrar um mero pela primeira vez. O momento emocionante aconteceu no Espírito Santo, no maior berçário de meros monitorado pelo Projeto. “Foi uma experiência inesquecível! Trabalho no Projeto Meros há cerca de seis anos e, durante todo esse tempo, conheci o peixe apenas por fotos, vídeos e estudos. Quando comecei a planejar a viagem até o Espírito Santo, só de imaginar a possibilidade de encontrar um mero ao vivo eu já ficava emocionada. Fui do Rio de Janeiro até São Mateus cheia de alegria e expectativa.
Já no primeiro dia de campo, soube que finalmente iria ver um mero! Quando encontrei o animal e pude segurá-lo, foi como ganhar um presente da natureza. Aquele peixe amarronzado, com várias pintinhas pretas no rosto, era ainda mais bonito pessoalmente. E uma das imagens que nunca vou esquecer foi o momento em que eu e Rafael, supervisor de pesquisa no estado, o devolvemos ao mar. Ficou marcado para sempre.”
Ver um mero ainda é muito raro
Por serem animais criticamente ameaçados de extinção e viverem em águas mais profundas, os meros são extremamente difíceis de observar na natureza, tanto que muitos profissionais que trabalham com a espécie ainda não tiveram esse privilégio. Foi por isso que o encontro da pesquisadora foi tão especial. A experiência aconteceu durante um intercâmbio promovido pelo Meros do Brasil, que leva integrantes das equipes aos diferentes estados de atuação para acompanhar de perto as ações realizadas nas nove localidades.
O Projeto Meros do Brasil, patrocinado pela Petrobras e pelo Governo Federal, por meio do Programa Petrobras Socioambiental, atua no monitoramento de meros juvenis e no fortalecimento do diálogo com comunidades costeiras com o objetivo de proteger a espécie e incentivar práticas que contribuam para a sua recuperação.
Avistar um mero não é só emocionante: é raro. As espécies ameaçadas podem ser classificadas em diferentes níveis de risco de extinção. Quando entram na lista das ameaçadas, são divididas em três grupos: Vulnerável (VU), Em Perigo (EN) e Criticamente em Perigo (CR) — sendo este último o grau mais grave antes de uma possível extinção regional.
No Brasil, o mero está justamente na categoria Criticamente em Perigo. Isso significa que, se a situação piorar, a espécie pode desaparecer de alguns locais.
A pesca, o transporte e a comercialização do mero estão proibidos desde 2002. Essa é uma medida importante, mas ainda não suficiente para garantir a recuperação total da espécie. Por isso, iniciativas de pesquisa, preservação e engajamento comunitário, como as promovidas pelo projeto, seguem sendo fundamentais para que momentos como o vivido pela Marina não se tornem apenas lembranças de algo que já não existe mais.


Crédito das fotos: Rafael Oliveira