Há algumas décadas, a atividade pesqueira em larga escala tem causado impactos profundos nos ecossistemas marinhos, levando ao declínio acentuado especialmente de peixes como os meros (Epinephelus itajara), que tem um crescimento lento, uma vida longa – podem viver mais de 40 anos -, e que são altamente vulneráveis à sobrepesca. Além disso, a degradação dos ecossistemas marinhos-costeiros, as mudanças climáticas e a poluição também contribuem para um cenário ainda mais preocupante quando olhamos para a conservação da biodiversidade marinha.
Diante disso, a piscicultura marinha apresenta-se como uma alternativa viável para a conservação de espécies ameaçadas e como oportunidade de desenvolvimento econômico para comunidades litorâneas, podendo ser uma alternativa de geração de renda. Nesse contexto, destaca-se a importância da criopreservação de sêmen de peixes, uma técnica ainda pouco aplicada no Brasil, mas que oferece diversas vantagens para os programas de reprodução fora da natureza.
Parece complicado, mas é simples: com essa técnica, o sêmen dos peixes é coletado e congelado a temperaturas muito baixas, o que permite conservá-lo por muitos anos. Assim, é possível fertilizar ovos mesmo quando os machos não estão mais disponíveis, facilitando a reprodução e garantindo mais filhotes com qualidade genética.
Há 10 anos, o Projeto Meros do Brasil, patrocinado pela Petrobras e Governo Federal por meio do Programa Petrobras Socioambiental, trabalha com a criopreservação do sêmen dos itajaras. “Ao criopreservar o sêmen dos peixes, garantimos parte do sucesso reprodutivo mesmo que eles não liberem gametas durante uma indução, uma das ferramentas essenciais para o sucesso do protocolo de reprodução da espécie em cativeiro”, explica o prof. Dr. Eduardo Sanches, especialista no tema e coordenador do Meros em São Paulo.
Apesar de existirem protocolos experimentais de criopreservação para mais de 200 espécies de peixes, apenas cerca de 40 são marinhas. No Brasil, poucas espécies como a garoupa-verdadeira (Epinephelus marginatus), o linguado (Paralichthys orbignyanus ) e o robalo-peva (Centropomus parallelus) foram contempladas com estudos nessa linha. Ou seja, ainda há muito o que fazer, mas, como explicado aqui, esses estudos podem se tornar uma ferramenta essencial para a conservação da vida marinha, e para o fortalecimento da aquicultura sustentável.
Texto: Otávio Mesquita de Sousa
Crédito da foto da capa: Áthila Bertoncini