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O QUE FAZEMOS? TELEMETRIA

 

Com o objetivo de estudar os padrões de movimentação dos meros, o uso e a ocupação de áreas de agregação o Projeto Meros do Brasil, patrocinado pela Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental, utiliza três metodologias de pesquisa complementares: a telemetria acústica, o uso de marcadores externos e a fotoidentificação. Aqui, vamos explicar como funciona a telemetria.

 

A telemetria acústica consiste basicamente de marcadores (tags) sônicos implantados nos meros, com a finalidade de emitir sinais sonoros que são detectados por receptores instalados em pontos determinados previamente. Geralmente, em áreas de agregação já mapeadas. Tal metodologia permite a leitura comportamental de indivíduos marcados quando se encontram em um raio de até 600 metros dos receptores.

 

Manutenção de receptores.

 

O trabalho inicia com o mergulho científico. É por meio dele que os pesquisadores verificam o lugar de ocorrência, identificam os peixes e realizam o censo visual – contagem do número de meros e a estimativa do tamanho dos mesmos – localizando o mero que será marcado. Feita a prospecção, acontece um segundo mergulho onde o mero é apanhado por uma equipe experiente e levado a bordo de uma embarcação preparada para realização dos procedimentos necessários.

 

Já a bordo, o mero tem seus olhos cobertos para protege-los da incidência direta de luz solar enquanto a equipe estabiliza a sua condição para iniciar a operação. Após esterilizar uma porção da parte abdominal do peixe, é feita a incisão de aproximadamente três centímetros, onde será inserido o tag sônico subcutâneo. Em seguida o corte é suturado e recebe a aplicação de uma pomada antibactericida e cicatrizante, e assim, a tecnologia já está em funcionamento.

 

Uma dúvida recorrente de quem acompanha tal procedimento é se os meros amostrados sentem dor. Leonardo Bueno, biólogo e Doutor em oceanografia, coordenador do PMB em Santa Catarina e responsável pela técnica, esclarece: “Durante os 15 minutos que o mero fica embarcado, ele é mantido vivo com o auxílio de uma bomba que circula água salgada por suas brânquias juntamente com óleo de cravo, um anestésico natural que mantém os meros e outros peixes levemente sedados, impedindo que sintam dor”.

 

 
Inserção do tag.

 

O pesquisador ainda explica que além da marcação são realizados também a medição e a coleta de material biológico (tecido e gônadas) dos meros. Em seguida, a soltura é feita no mesmo local da captura para que não exista nenhuma influência nos resultados em relação à sua movimentação. A coleta de material dos meros, não é letal, tampouco meros, sendo regulamentada por meio de autorização específica (SisBio) concedida pelo ICMBio.

 

“Os meros costumam se machucar frequentemente devido ao habitat em que vivem, raspando a pele em corais e também em pedras quando entram e saem das tocas, e por isso sabemos que são peixes que possuem uma boa cicatrização. Então, depois de solto o mero amostrado volta para a água e após poucas horas de descanso no fundo, retoma o comportamento habitual sem nenhuma consequência resultante da inserção do marcador”.

 

No caso das fêmeas, o tag sônico funciona também como um sensor de profundidade monitorando o movimento vertical na coluna d’água. Movimento esse, associado à desova. A durabilidade do dispositivo é de cerca de três anos, o que permite a coleta de dados durante um longo período. Os exemplares capturados recebem ainda outros dois tipos de marcadores: o tag de identificação e o microship.

 


Detalhe de um tag.

 

O tag de identificação de captura, nada mais é que um marcador numérico, similar aos utilizados em outros animais como suínos e bovinos. É inserido com o auxílio de um alicate de marcação devidamente esterilizado. É implantado nas partes externas da nadadeira dorsal, para exemplares do sexo masculino, e, na nadadeira anal, para as fêmeas. Esta marcação permite que os pesquisadores identifiquem os exemplares durante novas prospecções de mergulhos científicos, possibilitando além do reconhecimento, a observação de variações de comportamento entre machos e fêmeas.

 

Já os microships são inseridos com o auxílio de uma agulha e seringa especial na parte lateral e porção dorsal dos peixes. São utilizados para o caso de algum exemplar perder o marcador externo. O microship contém um código composto de letras e números únicos para cada animal.

 

NOSSA HISTÓRIA COM A TELEMETRIA

 

A telemetria auxilia nas pesquisas do PMB desde 2013, ano em que foi estabelecida uma parceria com a Flórida, nos Estados Unidos, por meio do Coastal and Marine Laboratory da Universidade do Estado da Flórida (Florida State University– FSU). As atividades conjuntas são mantidas desde então através da troca de conhecimento, análises de dados e publicações de artigos científicos que trazem novas informações sobre a espécie e fomentam políticas públicas para a conservação marinha.

 

Recentemente, em 2019, no intuito de trocar experiências e aprimorar o trabalho, o Projeto Meros do Brasil, reuniu mais de 20 participantes que apresentaram relatos de atividades utilizando a técnica, e, que puderam comprovar a eficiência dos dispositivos por meio de testes realizados in loco por profissionais da empresa canadense VEMCO e da empresa brasileira Lunus, fornecedoras da tecnologia. Além disso, foi iniciada a discussão sobre a criação de uma rede de telemetria brasileira para a colaboração de pesquisas conjuntas e compartilhamento dos equipamentos.

 

 
Workshop de Telemetria.

 

No Brasil, outros projetos como Peixe-boi, Lontra e Budiões – também patrocinados pela Petrobras –, e instituições como a Universidade Federal do Pernambuco (UFPE) e Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), trabalham com a telemetria como ferramenta de suas ações de pesquisa e conservação. Alguns destes, participaram no ano passado do I Workshop de Telemetria promovido pelo PMB em Santa Catarina.

 

É pela telemetria que o PMB já conseguiu constatar alguns padrões comportamentais da espécie. Por exemplo, no Sul do Brasil, foi registrado o retorno de mais de metade das fêmeas marcadas aos pontos de agregação durante a época reprodutiva – no verão – em anos consecutivos. Também, foi observado que após este período alguns indivíduos seguem em direção à Ilha da Figueira, chegando em poucos dias ao litoral de São Paulo, o que indica que o mero pode se deslocar por dezenas de quilômetros num curto espaço de tempo. Estas descobertas são extremamente importantes já que preservar as áreas de reprodução é um fator chave para a conservação da espécie.

 

Em Pernambuco, através de uma parceria entre PMB, UFPE, Cepene/ICMBio, CNPq, Projeto Recifes Costeiros e Prefeitura Municipal de Tamandaré e instituições estrangeiras – Ocean Tracking Network e Texas A&M University – que colaboram com o empréstimo de equipamentos, treinamentos, análise de dados e intercâmbio de alunos e pesquisadores, a telemetria vem sendo utilizada desde 2016 para o monitoramento das áreas recifais da Zona de Preservação da Vida Marinha (ZPVM) de Tamandaré e entorno, e, das espécies que os habitam.

 


Zona de Preservação da Vida Marinha (ZPVM) de Tamandaré. 

 

Segundo a Doutora Beatrice Ferreira, bióloga e coordenadora do PMB em Pernambuco, “o monitoramento multiespecífico possibilita uma avaliação mais segura de como as áreas protegidas estão auxiliando na conservação de várias espécies de peixes da área que partilham o habitat com o mero. O que, permite entender as características necessárias para a sua ocorrência, o tamanho e qualidade de seu território, e orienta a aplicação de uma abordagem ecossistêmica na conservação. Como sabemos, a conservação dos meros depende da qualidade dos habitats, e, intervenções como criação de santuários para a espécie são muito importante em todos os ambientes que os meros ocupam ao longo de sua vida”.

 

Os resultados, com o uso da telemetria, mostram que alguns peixes saem da área protegida, mas regressam e em sua maioria ali permanecem, indicando que a estratégia de manter uma área fechada e monitorada é eficiente na recuperação de ecossistemas sob pressão, como os recifes costeiros que são ocupados pelos meros quando deixam as áreas berçário no mangue. Portanto, a telemetria neste espaço é importante para entender o uso destes habitats e os recursos necessários para a manutenção das populações residentes, possibilitando a criação de medidas eficazes de conservação.

 

A TELEMETRIA EM NÚMEROS

 

Atualmente, o Projeto Meros do Brasil conta com 28 marcadores instalados em quatro estados da costa brasileira: Pernambuco, São Paulo, Paraná e Santa Catarina. Em Pernambuco há um total de 19 receptores instalados. A área compreendida pelos receptores encontra-se maioritariamente localizada dentro da ZPVM, na Área de Proteção Ambiental (APA) Costa dos Corais. Essa área conta ainda com outras duas Unidades de Conservação que paralelamente atuam na conservação dos ecossistemas costeiros e marinhos: a APA Estadual de Guadalupe e o Parque Natural Municipal do Forte de Tamandaré.

 

Nas regiões Sudeste e Sul, contamos com nove receptores instalados entre o arquipélago de Tamboretes, em Santa Catarina, passando por alguns pontos do Paraná e chegando até a Ilha da Figueira, em São Paulo.

 

Desde 2014, no Paraná e em Santa Catarina, foram amostrados 21 meros, sendo 12 fêmeas, oito machos e um exemplar de sexo ainda indeterminado. Os tamanhos destes indivíduos variaram entre 95 centímetros e 2,10 metros de comprimento. Este último com cerca de 20 anos de idade e aproximadamente 250 quilos.

 

Em Pernambuco, nos últimos quatro anos foram marcadas quatro espécies de famílias recifais diferentes: o bóbó (Sparisoma axillare), o cirurgião (Acanthurus chirurgus), a baúna (Lutjanus alexandrei) e a piraúna (Cephalopholis fulva), totalizando 44 peixes marcados. A área, fechada desde 1999, tem dois meros residentes e vem sendo monitorada desde então.

 

 

 

 

 

 

 

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