As manchetes científicas internacionais da semana divulgaram que. pesquisadores da Universidade do Havaí, Wildlife Conservation Society, Smithsonian tropical Research Institute, National Marine Fisheries Service e do Projeto Meros do Brasil, patrocinado pela Petrobras , descobriram uma nova espécie de peixe – um Mero que atinge mais de 2 metros de comprimento que pesa cerca de 400 quilos e habita recifes tropicais do Oceano Pacífico da América Central.
“Estava este peixe enorme se escondendo entre recifes de corais e gramíneas marinhas evitando os pesquisadores?”, questiona um dos autores do estudo e coordenador do projeto Meros do Brasil, Mauricio Hostim. Não, na verdade era apenas um caso de identidade equivocada, como explicou o recente estudo genético publicado na revista científica Endangered Species Research, que teve a participação de pesquisadores do projeto. Acreditava-se que o Mero, conhecido pelo nome científico de Epinephelus itajara, fosse uma única espécie, comum ao Atlântico – aonde habitam águas tropicais das Américas e Costa Ocidental da África – e ao Oceano Pacífico. “Por mais de um século, ictiólogos pensaram que os Meros do Atlântico e do Pacífico eram a mesma espécie, e este argumento foi divulgado antes do advento das técnicas modernas de estudos genéticos. Os dados genéticos foram chave para nossa descoberta: duas espécies, uma em cada lado da América Central”, afirma Matthew Craig do Instituto de Biologia Marinha do Havaí, autor principal do estudo.
Como as duas populações são idênticas na forma e cores do corpo, eram consideradas da mesma espécie: Epinephelus itajara, o Mero. Mas com o tempo, as duas populações evoluíram em duas espécies geneticamente distintas, mostra o estudo. As espécies de Meros do oceano Atlântico e Pacífico apresentaram diferenças significativas no DNA, ou seja, tornaram-se duas espécies independentes depois de separadas pela América Central.
O Mero é uma espécie que habita estuários durante seu ciclo de vida, e com isso, representa uma das últimas espécies que se esperaria divergir durante o gradual fechamento do Istimo do Panamá, que uniu as Américas do Norte e do Sul, isso a cerca de 3.2 milhões de anos, no Plioceno, avalia outro autor do estudo Athila Bertoncini.
A nova espécie do Pacífico, revelado pela Ciência, é agora chamada de Epinephelus quinquefasciatus. A espécie do Atlântico mantém o nome original, uma vez que a primeira descrição da espécie foi feita por um pesquisador alemão, Lichenstein, em 1822, numa publicação sobre a história natural do Brasil, explica a também pesquisadora, integrante do projeto Meros do Brasil, Beatrice Padovani Ferreira. “Assim, como dita a regra da nomenclatura científica, o nome Epinephelus itajara, que tem origem no tupi-guarani e significa ‘senhor das pedras’ fica valendo para a espécie do Atlântico”.
Atualmente, o Epinephelus itajara está classificada como criticamente ameaçada de extinção na lista vermelha de espécies ameaçadas da IUCN (União Internacional de Conservação da Natureza). A nova espécie, E. quinquefasciatus, pode também ser considerada como criticamente ameaçada. “Sob a luz da nossa nova descoberta, o Mero do Pacífico deveria receber estratégias de manejo e conservação diferenciadas”, avalia a pesquisadora Rachel Graham, uma co-autora do estudo e organizadora do primeiro simpósio internacional dos Meros, realizado na República Dominicana em 2007, local onde foi fortalecida a parceria do projeto “Meros do Brasil” com pesquisadores internacionais, buscando o resultado científico para as ações de pesquisa e conservação.
Dos 10 autores do estudo, seis deles são integrantes da atual equipe do projeto “Meros: estratégias para a conservação dos ambientes marinhos e costeiros do Brasil”, contemplado no edital de 2006 do Programa Petrobras Ambiental. Entre as linhas de ação do projeto está a pesquisa científica sobre a espécie com criação de um laboratório de genética aplicada à questões de biologia e conservação de recursos marinhos, em andamento na Universidade Federal de Pernambuco, sob a coordenação do Professor Dr. Rodrigo A. Torres.
Cabe ainda destacar que a equipe de genética está em fase final de desvendar a assinatura genética de Epinephelus itajara com base em distintas regiões dos genoma mitocondrial da espécie. A expectativa é que em um curto espaço de tempo os resultados sejam disponibilizados e contribuam com a aconservação da espécie no sentido de reconhecer o comércio ilegal do Mero.