Um pequeno exemplar capturado acidentalmente em uma pescaria, retornou ao mar nesta semana
No último mês, um merinho de 36 centímetros e 620 gramas foi capturado acidentalmente na Praia do Forte, no município de Mata de São João, na Bahia. Recebido pelo Projeto Tamar, que tem uma base no município, o exemplar ficou cerca de 4 semanas em um tanque, de quarentena, e nesta semana retornou ao mar.
Ivanildo, pescador parceiro do Projeto Tamar, sem querer fisgou o mero durante a pescaria. Contudo, sabendo que a espécie é ameaçada, ele teve o cuidado de buscar o auxílio de um projeto de conservação marinha e encaminhar o exemplar ainda vivo para a instituição.
O merinho chegou à base machucado, mas com uma condição geral muito boa. De acordo com a médica veterinária da Fundação Projeto Tamar, Dra. Thaís Pires, foi preparado um recinto apropriado para recebê-lo, e a partir daí foi realizado o acompanhamento da melhora das lesões e do padrão de natação do pequeno espécime.
Depois que o peixe recebeu esses primeiros cuidados, o Projeto Meros do Brasil foi acionado e o supervisor do Meros em Alagoas, Tiago Albuquerque, foi até a Praia do Forte, para acompanhar a coleta de amostras.
Foram retirados três pequenos pedaços de tecido das nadadeiras peitoral e caudal do peixe. O mero também foi medido, pesado e fotografado, e a imagem poderá ser utilizada para fotoidentificação em caso de recaptura.
As amostras coletadas irão nos auxiliar nas ações de conservação dos meros.
Para quem se pergunta se o mero sente dor durante a coleta das amostras, Tiago responde: “é bem difícil definir o quanto o peixe sofre, mas por se tratar de um vertebrado com sistema nervoso bem definido, acreditamos que sinta algum tipo de dor. Contudo, a coleta é bem rápida e tiramos um pedaço menor que a unha do dedo mindinho, justamente para não o prejudicar”.
Pesquisa e conservação
Esses “pedacinhos” dos meros são essenciais às ações de conservação já que podem nos dizer muito sobre a espécie.
Depois de submetidas às análises genéticas, as amostras ajudarão a compreender melhor sobre as relações de parentesco com outros meros amostrados, e sobre a diversidade genética desse indivíduo – que em linhas gerais são as características distintas de cada ser vivo, que poderão garantir a sobrevivência de uma espécie.
“Para usar um exemplo atual, a covid está atuando no mundo inteiro. E por que algumas pessoas podem ter respostas diferentes a esse vírus? Porque geneticamente existem diferenças entre os indivíduos, assim uns terão uma resposta melhor que outros. Se todos fôssemos iguais, se não existisse diversidade genética, apresentaríamos todos a mesma resposta ao vírus”, explica Ana Paula C. Farro, Doutora em Ciências Biológicas Genética e colaboradora do Meros.
Ou seja, a diversidade genética pode apontar o quão vulnerável uma espécie é em relação aos fatores estressores presentes em seu habitat. Logo, esses dados contribuem para definir estratégias de conservação que podem evitar o desaparecimento dos meros.
Além disso, as informações são extremamente relevantes porque para seguir protegendo essa espécie ameaçada, ainda temos um longo caminho no estudo e levantamento de dados sobre os meros aqui no Brasil. “Entrar em contato com o Projeto Meros para disponibilizar essas informações sobre capturas (acidentais ou não), fotos de bichos capturados ou vivos no ambiente e até mesmo pedaços desses bichos é uma maneira de contribuir com a preservação da espécie” reforça Tiago.
Com a ajuda de uma equipe do Projeto Tamar, o merinho voltou ao mar, na última terça.
Um final feliz
Não é a primeira vez que os parceiros da Rede Biomar, Projeto Meros do Brasil e Projeto Tamar, patrocinados pela Petrobras, por meio do programa Petrobras Socioambiental, realizam juntos uma soltura de mero.
“Eu já havia coletado amostras da espécie e participado de outra soltura há uns 10 anos. O mero é um animal encantador e de ciclo de vida complexo, e é sempre um prazer ajudar aqueles que estudam e buscam proteger esses gigantes dos mares”, comemora Thaís.
Essa história, é um belo exemplo da importância do trabalho em rede, e da parceria que muitos projetos ambientais, como o Meros e o Tamar, estabelecem com as comunidades tradicionais.
O merinho voltou ao mar em ótimas condições na última terça, dia 18 de maio. A soltura foi feita da praia, já que ele havia sido capturado em uma área bastante rasa. Um dia feliz para os Meros do Brasil e para a Natureza!
Crédito imagens: Fundação Projeto Tamar e Tiago Albuquerque
Texto: Verônica Faquin