Patrocínio oficial

Notícias

Conhecimento Ecológico Local

O Projeto “Meros do Brasil”, patrocinado pela Petrobras através do Programa Petrobras Ambiental, estabeleceu uma importante rede de parcerias, reunindo órgãos ambientais, ONGs e universidades em ações de pesquisa e conservação, trazendo o Mero como espécie bandeira. A Rede Meros do Brasil é a base para a implementação do Programa Interinstitucional de Conhecimentos e Práticas Locais, que procura envolver o conhecimento dos pescadores e suas práticas tradicionais de pesca nas iniciativas de conservação marinha.

Um dos resultados principais deste programa acaba de ser publicado na revista internacional especializada “Ocean and Coastal Management”, o estudo “Conhecimento Ecológico Local no manejo de áreas marinhas protegidas no Brasil”, que avaliou a importância do conhecimento ecológico local para a gestão das áreas marinhas protegidas (download abaixo e no link “publicações” no website do Projeto Meros do Brasil ).

O Brasil possui mais de 50 destas áreas especiais, e como signatário da Convenção da Diversidade Biológica, se comprometeu a aumentar o número de áreas marinhas protegidas significativamente até 2012. “Isto implicará um enorme esforço de gestão e pesquisa do ambiente marinho nos próximos anos”, explica o biólogo e um dos autores do estudo, Eduardo Godoy.

Com mais de oito mil quilômetros de litoral, o país possui um grande desafio, o de conhecer e entender sua biodiversidade e recursos marinhos nesta vastidão de água salgada. Com relativamente poucos centros de pesquisa em ciências marinhas comparado à extensão do seu litoral, o estudo aponta que os pescadores devem ser envolvidos nos projetos de pesquisa e conservação, avalia o ocenaógrafo e também autor do estudo, Leopoldo Gerhardinger. “São milhares de pescadores na costa Brasileira, cada um, um parceiro em potencial, já que acumulam um vasto saber sobre a ecologia dos peixes e outras espécies, das correntes e a história, dinâmica e prática da pesca do local”.

Para o desenvolvimento da pesquisa, foram visitadas 9 Unidades de Conservação Federal – Área de Proteção Ambiental Costa dos Corais, em Pernambuco; Área de Proteção Ambiental Cananéia-Iguape-Peruíbe, Estação Ecológica Marinha Tupiniquins, Reserva Ecológica Marinha do Arvoredo e Reserva Extrativista Marinha Pirajubaé, em São Paulo, Áreas de Proteção Ambiental do Anhatomirim e da Baleia Franca, em Santa Catarina, e na Bahia, o Parque Nacional Marinho dos Abrolhos.

Para obter uma perspectiva dos diretamente responsáveis pela gestão, em cada Unidade de Conservação foi entrevistado um funcionário da área, além de 5 autoridades governamentais pertencentes ao Ministério do Meio Ambiente e ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICMBio.

O estudo evidenciou algumas especificidades de conhecimento do CEL que podem contribuir na gestão das Áreas Marinhas como as informações sobre a distribuição de espécies e recursos, a avaliação da variação sazonal e métodos de exploração dos recursos; navegação; marés; ciclos da natureza; história local; variação temporal do tamanho dos recursos explorados; biologia e reprodução de espécies, entre outros fatores.

Uma importante constatação do estudo é que envolver os pescadores amplia a base de conhecimento disponível para a gestão e de quebra pode estimular uma participação mais ativa e compromissada da comunidade com a área protegida. Uma dificuldade é que a sociedade moderna sobrevaloriza o saber científico e acadêmico, e muitas vezes não é dado o devido reconhecimento ao vasto conhecimento dos pescadores. Outra barreira é que o conhecimento dos pescadores na maioria das vezes não se encontra sistematizado e organizado em linguagem acessível aos gestores. “Precisamos abrir o diálogo com o saber local, pois muitas vezes ainda dispensam-se boas idéias e propostas de gestão com a justificativa da inexistência de conhecimento científico”, avalia Godoy.

Os autores argumentam que para que se tenha um diálogo de saberes saudável, as áreas protegidas precisam ter um conselho formado e atuante, que reconheça deliberadamente a importância do conhecimento local em equivalência com o conhecimento científico. “Um outro aspecto importante é ter gestores com fortes raízes locais, ou que sejam sensíveis à cultura e conhecimentos de cada região”, complementa Gerhardinger.

O estudo reconhece o desafio de efetivamente engajar o conhecimento tradicional na gestão das áreas marinhas protegidas. É necessário, no entanto, que o governo abra uma agenda para discutir a integração do conhecimento científico ao local, e ao mesmo tempo, que as comunidades pesqueiras se organizem.

A pesquisa conclui que a prática de processos participativos deve ser estimulada nas áreas marinhas, principalmente aquelas que favoreçam um diálogo construtivo e qualificado para a solução dos problemas e construção de novos conhecimentos.

Confira a versão do artigo em português no link abaixo

plugins premium WordPress