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ATAQUES DE TUBARÃO NO BRASIL: PRECISAMOS FALAR SOBRE ESSE ASSUNTO

Os recentes ataques de tubarões que ocorreram no Brasil, no mês de julho, ganharam destaque nos noticiários e também em discussões nas redes sociais. O debate trouxe à tona muitas e diversas questões. Houve espaço para apontar possíveis culpados, questionar a eficácia das medidas de segurança adotadas e também para algumas perguntas bastante específicas como: por que os tubarões atacam? Isso acontece só no Recife? Humanos são considerados presas desses animais?

 

As dúvidas são bastante pertinentes, e a ciência pode ajudar a respondê-las. Por isso, o Projeto Meros do Brasil, patrocinado pela Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental, entra na discussão e tenta esclarecer alguns desses pontos em uma breve conversa com Dr. Cláudio Sampaio, coordenador do Meros em Alagoas, Professor da Universidade Federal de Alagoas(UFAL) e conselheiro da Sociedade Brasileira para o Estudo de Elasmobrânquios (Sbeel), entidade que há mais de 20 anos promove estudos sobre tubarões e raias no país.

 

Na entrevista abaixo falamos sobre os ataques acontecidos na praia de Jaboatão dos Guararapes, no Recife; sobre as espécies de tubarões que ocorrem no Brasil e quais os “perigos” que oferecem; sobre as ações que todos nós podemos pôr em prática para tentar evitar novos acidentes e até sobre como uma obra de ficção pode ter influenciado a forma como vemos os tubarões.

 

O professor Dr. Cláudio Sampaio é coordenador do Meros do Brasil no Alagoas

 

Em um intervalo de 15 dias, Pernambuco registrou na mesma praia dois ataques de tubarão. Além deste, outras ocorrências foram contabilizadas na praia de Jaboatão dos Guararapes, em Recife, desde que o Comitê Estadual de Monitoramento de Incidentes com Tubarões (Cemit) iniciou o monitoramento dos ataques em 1992. Deve haver uma explicação para essa reincidência na região, certo?

Sim, há registros históricos de incidentes de tubarões nessa praia e apesar das placas alertando sobre os riscos, essa região é ainda bastante utilizada como área de lazer. Não há um único motivo para essa região ter tantos registros de incidentes, mas a sua proximidade com o porto de Suape (onde grandes navios podem atrair tubarões, com o lançamento de resíduos sólidos orgânicos), degradação ambiental (aterros de vastas áreas de manguezais), sobrepesca (reduzindo as possibilidade de alimentação dos tubarões), a presença de correntes marinhas costeiras, e um canal profundo próximo à costa favorecem a presença de espécies potencialmente perigosas de tubarões. Marés de sizígia, com grandes amplitudes, que favorecem a aproximação de grandes tubarões, e fortes chuvas que deixam as águas mais turvas, também são relacionados como importantes fatores para o aumento do risco de ataques.

 

Quais espécies de tubarões temos no Brasil, e dessas, quais espécies têm atacado?

São atualmente cerca de 90 espécies de tubarões registrados no Brasil, sendo conhecidos ataques de poucas espécies, como os tubarões martelo (Sphyrna spp), mangona (Carcharias taurus), galha-preta (Carcharhinus spp), tubarão branco (Carcharodon carcharias), tigre (Galeocerdo cuvier) e cabeça-chata (Carcharhinus leucas), sendo esses dois últimos aqueles com maiores números de incidentes.

  

Quais são os hábitos alimentares dessas espécies? Humanos são considerados presas para os tubarões?

Os tubarões potencialmente perigosos são aqueles que podem atingir grande porte, ultrapassando os 2 m de comprimento, que apresentam hábitos costeiros e uma dieta diversificada, contudo humanos não são presas desses tubarões. O fato de serem grandes, costeiros e possuírem uma dieta ampla, favorece os encontros e mordidas exploratórias.

 

Esses tubarões costumam chegar tão perto da faixa de areia? Podemos dizer que esse é um comportamento normal desses animais?

Os tubarões tigre e cabeça-chata ocorrem em águas rasas, no litoral, sendo o cabeça-chata conhecido, inclusive, por entrar por milhares de quilômetros em grandes rios, como o Amazonas.

 

Por que esses tubarões atacam?

Não há uma única explicação, mas ambientes degradados e sobrepescados – ou seja, onde a ausência de espécies pescadas além de sua capacidade natural de reposição causa um desequilíbrio ecológico em todo o ecossistema -, parecem influenciar o comportamento dos tubarões. Os tubarões podem confundir os humanos em águas turvas com alguma presa, ocorrendo o ataque. Uma vez percebido que não se trata de uma presa natural, o tubarão solta a vítima.

 

Existem riscos de ataques em outros locais do Brasil?

Sim, além da região metropolitana do Recife, o número de incidentes com tubarões estão mais conhecidos, muito por conta da popularização das redes sociais, do aumento de atividades esportivas aquáticas e dos ambientes marinhos degradados. Normalmente os surfistas ficam mais expostos a encontros com tubarões, pois permanecem longe das águas rasas por mais tempo. Em Fernando de Noronha, surfistas e banhistas ao ficarem mais próximos de cardumes de pequenos peixes, favorecem os encontros entre humanos e tubarões em comportamento de caça.

 

Com a notícia dos ataques muitas pessoas comentaram que a informação alertando para que banhistas não entrassem na água estava disponível na praia de Recife através de placas ao longo da orla, reforçando um discurso de que talvez os banhistas teriam sido responsáveis pelo que aconteceu. Em casos assim, existe um responsável?

Esses incidentes são uma tragédia para a vítima, sua família e para os tubarões. O banhista assume a responsabilidade ao entrar em praias onde há placas indicando risco de incidentes com tubarões, mas buscar culpados neste momento não me parece ser algo produtivo. O fato é que as placas de alerta sobre os riscos, sozinhas, não são mais eficientes. Devemos discutir sobre a implementação de um programa de pesquisa e educação, da proibição do banho de mar em alguns trechos de praias mais críticos, da disponibilidade de banheiros públicos, novos equipamentos para os salva-vidas, entre outros.

 

O que seria mais indicado fazer para evitar acidentes como esse? Quem têm responsabilidade sobre esses acontecimentos (governo, ciência, sociedade…)?

Sem dúvidas, todos os segmentos da sociedade devem ter um papel ativo na busca de soluções para esse problema. Um programa de pesquisa e educação ambiental, com uma comunicação clara, além de infraestrutura para salva-vidas (capacitação e equipamentos) e banhistas (banheiros públicos, vestiários) podem evitar novos incidentes de tubarões. Não há uma única solução para esses casos complexos envolvendo humanos e tubarões.

 

Também, a partir dos acontecimentos, há um certo temor da população em relação aos tubarões, algo que não é novo e que habita o nosso imaginário desde a década de 1980 quando o famoso filme Tubarão, de Steven Spielberg foi lançado. Mas, tratando da realidade, temos motivos para temer os tubarões?

O filme teve um grande impacto negativo para os tubarões, muitas espécies passaram a ser perseguidas e mortas, consideradas como assassinos dos mares. Hoje com o desenvolvimento da ciência, sabemos que muitas espécies de tubarões estão ameaçadas de extinção pela pesca. Apesar de ter registros de incidentes envolvendo tubarões e humanos em diversos estados brasileiros, com raras exceções, como no caso da região metropolitana do Recife, não há motivos para temer os tubarões.

 

Voltando à ficção, o filme do Spielberg talvez não tenha sido visto por gerações mais novas, né? Você acha que existe um divisor de águas entre gerações e a relação delas com os tubarões? Exemplo: algumas pessoas cresceram com medo desses animais, que talvez tenha sido inspirado pelo icônico filme, enquanto outra parte da população (pessoas mais jovens) busca essa reconexão com a natureza e até sonha em mergulhar com os tubarões.

Sim, há uma nova geração que reconhece a importância dos tubarões, mas mesmo assim é, ainda, uma pequena parcela da sociedade. Há muito o que fazer, particularmente pesquisas e divulgação científica. Apesar do momento difícil, pesquisadores, ONGs, universidades e sociedades científicas não medem esforços para buscar soluções para a conservação dos tubarões e dos ambientes marinhos, além de, claro, reduzir esses terríveis incidentes envolvendo humanos e tubarões.

 

Em que aspectos o declínio dos tubarões pode impactar a continuidade da vida humana?

Quando os tubarões são capturados indiscriminadamente, sem manejo, há prejuízos na pesca, pois esses animais são também responsáveis pela manutenção da saúde do Oceano. Por exemplo, ao predar peixes doentes evitam o surto de diversas doenças contagiosas, assim como controlam as populações de peixes, moluscos e crustáceos, mantendo o Oceano saudável e equilibrado.

 

Para conhecer um pouco melhor os tubarões assista aqui a série produzida pelo Projeto Meros, “O Oceano é nosso Meio Ambiente”. No episódio 1 você vai ver que os tubarões são animais essenciais ao equilíbrio da vida, e no entanto são considerados os vertebrados mais ameaçados do mundo. Além disso, você vai descobrir que não precisa temer os tubarões e que pode ajudar na conservação da espécie sem sair de casa.

 

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