Integrando arte, ciência e cultura oceânica, o arte-educador Dó Galdino, coordenador de Cultura e Educação do Projeto Meros do Brasil, está percorrendo o país em uma viagem que vai além dos quilômetros rodados. O objetivo é reconhecer e dialogar com os diferentes territórios de atuação do projeto, fortalecendo ações de sensibilização ambiental em torno de uma causa urgente: a conservação dos meros e dos ecossistemas marinhos.
Cuidar do ambiente é cuidar da diversidade cultural
As visitas têm início com a escuta ativa das equipes locais, passo essencial para promover trocas de saberes e práticas culturais de forma efetiva. Patrocinado pela Petrobras e pelo Governo Federal, por meio do Programa Petrobras Socioambiental, o Projeto Meros do Brasil entende que a educação ambiental se fortalece quando se conecta com as realidades de cada território.
“As artes desempenham um papel importante na escuta e sensibilização das pessoas. Expressões como as artes plásticas, musicais, cênicas, audiovisuais e literárias são poderosas tecnologias socioculturais capazes de ativar memórias e provocar reflexões. Ao dialogar com as manifestações locais, criamos espaços de encontro entre gerações, fortalecendo identidades culturais e promovendo uma educação ambiental crítica, inclusiva e emancipatória”, destaca Dó Galdino.
As narrativas, gestos, sotaques e memórias das comunidades são incorporados ao repertório de atividades que, em breve, serão multiplicadas em ações com crianças, jovens e adultos. A proposta é que cada oficina e intervenção reflita não apenas a urgência da conservação ambiental, mas também a riqueza das culturas locais — tornando o processo educativo mais significativo. O mero, peixe símbolo de força e resistência ameaçado de extinção, torna-se o personagem central dessa mobilização.
Experiência no Pará: práticas culturais
O Pará foi o primeiro estado a receber o intercâmbio. As atividades contaram com intensa participação da comunidade, reunindo crianças, jovens e anciãos em torno de oficinas e vivências culturais.
O trajeto incluiu visitas à comunidade pesqueira de Ajiruteua e ao percurso até a foz do rio Caeté, onde foi possível observar como a relação com o território molda modos de vida e subsistência. Também houve uma visita à Universidade Federal do Pará (UFPA), base da equipe do Meros no estado.
Na comunidade de Acarajó, reconhecida pela forte mobilização cultural e produção coletiva, destacou-se o papel da arte como instrumento de autodesenvolvimento e preservação das tradições. O engajamento das lideranças e dos moradores foi essencial para o êxito das ações. “A escuta ativa e a colaboração mútua são fundamentais para o sucesso do projeto”, ressalta Dó, reforçando que o diálogo tem promovido um ambiente de aprendizado e transformação coletiva.
Oficina de máscaras: arte e identidade
Entre os momentos marcantes da visita, esteve a oficina de máscaras, que utilizou técnicas artesanais de moldagem em argila e papietagem. Mesmo participantes sem experiência prévia se destacaram pela criatividade, produzindo personagens místicos e figuras da fauna regional — incluindo o majestoso mero.
“As oficinas de alegorias e adereços realizadas na Vila do Acarajó tiveram como objetivo aproximar a comunidade e valorizar a cultura socioambiental presente em sua história. O resgate dessas memórias contribui para preservar o território e suas tradições. Os moradores compartilharam histórias, músicas e vivências, transformando a construção do peixe acará — símbolo que dá nome à vila — em um momento coletivo de aprendizado e valorização cultural”, explica Maria Clara Pinheiro, supervisora de educação ambiental no Pará.
Ritual do Búfalo e o “Arrastão do Pitiú”: encerramento simbólico
O encerramento da visita foi marcado pelo “Arrastão do Pitiú”, evento criado por Denner Gama, presidente da Associação da Comunidade do Acarajó. A celebração reuniu as alegorias e peças produzidas nas oficinas, integrando diversas manifestações culturais locais.
Um dos pontos altos foi a apresentação do “Búfalo do Arrozal”, prática tradicional que simboliza a união das expressões culturais e o fortalecimento da identidade comunitária.
Para Denner, a parceria com o Meros do Brasil foi enriquecedora: “Aprendi sobre o peixe mero e a confeccionar alegorias com materiais recicláveis, que antes seriam descartados na natureza. Também realizamos a coleta de lixo no Rio Caeté, observando de perto o impacto dos resíduos. No encerramento, tivemos um momento cultural que reforçou nossos vínculos e a consciência ambiental da comunidade.”
Dó Galdino
Artista plástico, arte-educador e gestor cultural, Dó Galdino atua há mais de 37 anos com comunidades, especialmente jovens, unindo arte, educação e conservação ambiental. Nascido e residente em Caravelas (BA), é coordenador de Cultura e Educação do Projeto Meros do Brasil e fundador do Movimento Cultural Arte Manha. Sua trajetória inclui especializações em Cultura e Educação, Gestão Pública e Políticas Culturais, o que o consolida como um articulador experiente em iniciativas que conectam cultura, território e desenvolvimento comunitário.




