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Os Meros e o Projeto Meros do Brasil

Mais conhecido como mero, Epinephelus itajara é um peixe marinho da família Epinephelidae, uma dentre as tantas espécies que compõe a família das garoupas, chernes e badejos e habita águas tropicais e subtropicais do oceano Atlântico.

Infelizmente, a espécie está criticamente ameaçada e quase desaparecendo das águas brasileiras. Por ser um peixe de crescimento lento, que atinge grande tamanho (pode chegar a dois metros de comprimento e 400 kg de peso) e que habita as regiões rasas, o mero torna-se muito vulnerável às atividades humanas como a pesca.

Os meros habitam zonas estuarinas e áreas costeiras, ou seja, manguezais e costões rochosos, próximos de naufrágios, pilares de pontes e parcéis (rochas no leito do mar de pouca profundidade). Sabe-se que o mero vive até 100 metros de profundidade e tem crustáceos como um dos seus alimentos preferidos, mas chega a comer tartarugas e outros peixes, como raias. É um animal que, apesar de sua imponência, é pacífico, permitindo, por vezes, a aproximação de mergulhadores, que chegam até a tocá-lo.

O mero pode viver 40 anos e sua reprodução acontece dos quatro aos sete anos de idade, quando atinge 1,2 metros de comprimento. Agrega-se (formam cardumes) em épocas e locais específicos com a finalidade de encontrar parceiros para a reprodução. Os esforços de pesquisa tem constatado o desaparecimento gradual desse peixe de locais onde antes era abundante, especialmente suas agregações. Não se sabe exatamente o número de indivíduos e o total em biomassa que tem sido capturado anualmente, apesar da proibição.

Preocupados com isso, pesquisadores em todo oceano Atlântico vêm dando atenção à espécie, que está classificada como criticamente ameaçada pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN, 2006). Há mais de dez anos protegida da pesca em todo Golfo do México, somente em 2002 a espécie recebeu a proteção de uma moratória específica no Brasil (IBAMA, portaria nº 121 de 20 de setembro de 2002). Com isso, se tornou a primeira espécie de peixe marinho a receber uma portaria específica que estabelece a moratória da pesca pelo período de cinco anos. Em 2007 a Portaria No. 42/2007 do Ibama prorrogou por mais cinco anos a proibição da captura do mero. Em 2012, esforços conjuntos dos pesquisadores do Projeto Meros do Brasil, do ICMBio, IBAMA e Ministério do Meio Ambiente produziram subsídios para proposição de nova prorrogação com a prioridade da realização de estudos de maior amplitude e de recomposição das populações de mero no país.

Em busca de mais recursos para a pesquisa e o aumento de ações em campo, no ano de 2002, um grupo de pesquisadores em Santa Catarina criou o Projeto Meros do Brasil.

Em 2007, atingindo quatro Pontos Focais no país, o Projeto Meros do Brasil foi contemplado com o patrocínio da Petrobras, por meio do Programa Petrobras Ambiental. Um incentivo que alavancou e vem ampliando as pesquisas e não somente sobre a conservação do mero, mas também dos ambientes marinho-costeiros associados como manguezais, recifes de corais e costões rochosos. O patrocínio da Petrobras possibilita a sistematização e aprofundamento dos estudos, envolvendo as comunidades locais e o conhecimento adquirido pelos pescadores de cada Ponto Focal do projeto.

ITAJARA, O SR. DAS PEDRAS OU GIGANTE DO MAR

Atualmente o Projeto está inserido em seis estados brasileiros: Santa Catarina, São Paulo, Espírito Santo, Bahia, Pernambuco, Maranhão e Pará. As ações de pesquisa e conservação do projeto tem as atividades focadas na biologia pesqueira, genética, conhecimento ecológico local, aquicultura marinha, Educação Ambiental e mergulho científico em nove estados litorâneos do país.

O Projeto Meros do Brasil atua através de uma rede de parceiros conhecida como Rede Meros do Brasil. A Rede é formada por instituições de ensino e pesquisa distribuídas pelo litoral brasileiro que atuam de forma autônoma, sem perder o propósito de cooperação técnica e padronização de metodologias entre si. Dessa forma, o Projeto propõe unificar os desafios de pesquisa e conservação de uma espécie que possui uma extensa distribuição geográfica. O trabalho em parcerias é o grande diferencial do Projeto Meros do Brasil, que constrói uma rede nacional de articulação, tendo o mero como figura central e agregadora de conceitos e valores sobre a temática da conservação marinha.

Atualmente, o Projeto Meros do Brasil é realizado por sete instituições que trabalham juntas nos diferentes pontos focais: Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI (SC); Instituto de Pesca (SP); Universidade Federal do Espírito Santo – UFES/CEUNES (ES); Associação de Estudos Costeiros e Marinhos dos Abrolhos – ECOMAR (BA); Instituto Recifes Costeiros – IRCOS (PE); Universidade Fededal do Pará – UFPA; Universidade Federal de Pernambuco – UFPE; além de novas instituições que estão sendo agregadas, como a Universidade Federal Fluminense UFF no Rio de Janeiro. O Projeto conta também com a parceira de mais de 30 instituições no auxilio do desenvolvimento das ações dos diversos Pontos Focais.

Este grande potencial é atingido somando-se capacidades institucionais e pessoais de diversas organizações governamentais, terceiro setor, setor privado e cidadãos independentes como escolas, pescadores, mergulhadores, veículos de comunicação, turistas, pesquisadores, funcionários públicos, grupos culturais e ambientalistas.

As informações sobre este importante peixe constam inseridas na cultura de algumas comunidades litorâneas, que ao utilizarem os recursos naturais do ambiente onde vivem, acumulam o conhecimento sobre a espécie e seu ambiente.

Diante do escasso conhecimento sobre a bioecologia do mero no Brasil, percebe-se que é fundamental recorrer ao conhecimento ecológico de pescadores como subsídios à pesquisa e conservação da espécie.

Com isso, é esperado a mobilização da opinião pública nacional, a disseminação do conhecimento e construção de mentalidade e identidade marítimas, possibilitando o envolvimento dos governantes, criando ações estratégicas para a construção de uma agenda positiva de utilização sustentável dos recursos costeiros e marinhos do Brasil.

Foto: Áthia Bertoncini

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