Nas últimas semanas, o Projeto Meros do Brasil tem recebido diversas notificações de encalhes de meros (Epinephelus itajara) na costa brasileira. Em um curto espaço de tempo, foram registrados oito encalhes no litoral, seis deles em Santa Catarina, e dois em Pernambuco.
De acordo com o gerente de pesquisa do Projeto, Matheus Freitas, esse número não é incomum. “As frentes frias que atingiram o litoral sul nas últimas semanas podem ter contribuído para esses casos. Outro ponto de atenção são atividades antrópicas que podem estar ocorrendo próximos à locais de encalhe como pesca, dragagens, derrocagens e outras”.
Desde 2012, o Projeto Meros do Brasil, patrocinado pela Petrobras e pelo Governo Federal por meio do Programa Petrobras Socioambiental, acompanha os casos de meros encalhados no país. A equipe coleta amostras dos peixes para entender como eles se alimentam, onde costumam viver, qual a idade e se há presença de contaminantes nos exemplares.
Esses dados, cruzados com informações do local e das condições ambientais no momento do encalhe, ajudam os pesquisadores a investigar as possíveis causas da morte desses animais e a proteger melhor a espécie.
Por que os meros encalham?
Os padrões têm mostrado que uma grande mortalidade de meros está associada à influência de ocorrência de água fria, principalmente no inverno e primavera em São Paulo, Paraná e Santa Catarina. A espécie é sensível às mudanças bruscas na temperatura da água. Já, no verão, meros encalhados apresentam indícios de interação com a pesca.
Segundo Matheus “Por mais que campanhas de informação sobre a proibição de captura e transporte da espécie sejam amplamente divulgadas, diversos indivíduos encalham com marcas de arpões na cabeça, ou mesmo descaracterizados com apenas a espinha dorsal, sem os “filés”.”
Qual a importância de notificar um encalhe?
Mesmo quando o animal já está morto, o registro permite coletar informações valiosas sobre o ciclo de vida e o estado de saúde dos indivíduos. Esses dados são fundamentais para monitorar padrões de ocorrência e subsidiar políticas públicas de conservação. Cada comunicação feita ajuda o Projeto a ampliar o banco de dados e fortalecer a rede de ciência cidadã que apoia a proteção dos meros e dos ecossistemas costeiros e marinhos.
Alguns tipos de amostras, como os otólitos, só podem ser coletados quando o animal já foi encontrado morto — em casos de encalhe, captura acidental ou apreensão de pesca ilegal. Essas amostras são fundamentais para complementar e confirmar os dados obtidos nas pesquisas de campo, que são não letais. Em todas as nossas atividades, os meros são manuseados com extremo cuidado e devolvidos ao mar com vida, reforçando o compromisso do Projeto com a conservação da espécie.
“Dos animais vivos coletamos raios e espinhos (localizados na nadadeira dorsal), músculos e gônadas (ovócitos nas fêmeas e esperma nos machos). Já, de exemplares mortos, a depender do estado de decomposição dos peixes, coletamos também otólitos (estruturas internas calcificadas do presente na cabeça dos peixes) e conteúdo estomacal. Cada tipo de material ajuda a revelar informações importantes sobre a vida do mero”, explica Matheus.
Raios, espinhos e otólitos permitem descobrir a idade do animal, os locais por onde ele passou. Já, o músculo é analisado para verificar o nível de contaminação por mercúrio e outros metais pesados, além de fornecer dados genéticos que mostram se há relações de parentesco entre os meros já amostrados e se existem grupos ou agregações próximos ao local onde o peixe foi encontrado. Com os músculos também é possível avaliar sua posição na cadeia alimentar, ou seja, do que ele se alimenta e que papel tem no ecossistema.
Essas informações nos ajudam a entender melhor o comportamento, a saúde e a origem dos meros, contribuindo diretamente para estratégias de conservação da espécie. Por isso sua notificação vale muito.
O que devo fazer se avistar um mero encalhado na praia ou em ambientes aquáticos?
Se encontrar um mero vivo ou morto na beira da praia, em áreas de manguezal ou mesmo em alto-mar, entre em contato com a gente. Você pode acionar a Rede Meros em qualquer ponto da costa brasileira pelos seguintes canais através do Fale mero, nosso número de WhatsApp (21 99644-7157).



Crédito das fotos: Thiago Felipe de Souza