Não é incomum exemplares de meros mortos aparecerem na zona costeira. Neste mês, registramos o encalhe de um indivíduo adulto, em uma região de manguezal, no município de Conceição da Barra, no Espírito Santo.
Uma notícia triste, principalmente nessa época do ano, quando os meros formam cardumes – os agregados reprodutivos – para dar continuidade à espécie.
Diversos fatores podem ocasionar a morte de um mero, que, eventualmente, chegará à costa pelo movimento das correntes. Doenças comuns à espécie, ressurgência (a subida repentina de águas frias para a superfície), interação com a pesca e poluição podem ser apontados como alguns deles.
Quando recebemos a informação de um encalhe, uma equipe do Projeto Meros do Brasil, que é patrocinado pela Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental, se desloca até o lugar de ocorrência para coletar dados como: o local onde o mero foi encontrado; tamanho e peso do exemplar. E também, para coletar amostras como: tecido; otólitos e raios da nadadeira.
Desta vez, o relato chegou ao PMB, pela pescadora Juliana Clarindo, parceira nas atividades de campo para captura e marcação de meros juvenis. De acordo com Lorena L. Almeida, pesquisadora da equipe que participou da coleta das amostras, “essa relação de proximidade e confiança entre a pesquisa científica e as comunidades pesqueiras é muito significativa. No caso desse encalhe, se não houvesse comunicação entre nós e a comunidade da região, não teríamos tomado conhecimento da ocorrência, e isso impossibilitaria a coleta de amostras que são essenciais para os estudos de conservação da espécie”.
Mero encontrado no manguezal em Conceição da Barra, ES.
Por que informar a ocorrência de um encalhe é tão importante?
Os meros estão ameaçados de extinção! Assim, todas as amostragens realizadas pelo projeto para obtenção de dados possuem a autorização ICMBio e usam métodos não letais, ou seja, os meros coletados pelo Projeto não sofrem danos e são cuidadosamente devolvidos à natureza.
No entanto, também há outra fonte de dados muito importante que é proveniente de meros encontrados mortos, encalhados, apreensões de captura ilegal, ou ainda, capturados incidentalmente e que são encaminhados ao PMB. “Diversos estudos que auxiliam na conservação dos meros só são possíveis com a obtenção de amostras de um animal morto. Como no Projeto trabalhamos primordialmente com material proveniente de animais vivos, receber a informação de um encalhe nos ajuda a obter dados valiosos de pesquisa, tais como sexo, idade e hábitos alimentares”, explica Lorena. E é exatamente por isso que a notificação dos encalhes é tão importante.
Ainda, pela análise do material coletado, poderemos descobrir o grau de contaminação do animal por mercúrio e outros metais pesados, se existem agregações ou não por perto do local de encalhe, e até mesmo possíveis relações de parentesco entre os meros que já foram amostrados.
Do mero coletado em Conceição da Barra, foram retirados apenas os otólitos (estruturas de carbonato de cálcio encontrados na cabeça) porque o estado de decomposição do peixe já estava muito avançado, impedindo o aproveitamento do material biológico do animal que seria utilizado nas pesquisas. Mesmo assim, depois da análise dessa pequena amostra, será possível descobrir informações como o local de nascimento e outros aspectos do ciclo de vida desse indivíduo.
Os ótolitos são considerados a caixa-preta dos peixes. Através da sua análise, podemos saber quantos anos o mero amostrado tem, as áreas por onde passou no seu ciclo de vida e até seu local de nascimento.
Agora que você já sabe a importância de notificar um encalhe, atenção! Se avistar um mero vivo ou morto na beira da praia, em uma área de manguezal ou mesmo em alto-mar, chama a gente!
Entre em contato com a Rede Meros ao longo da costa brasileira através das redes sociais (@merosdobrasil, no Instagram ou página do Meros do Brasil no Facebook), email (projetomerosdobrasil@gmail.com), ou pelo FALE MERO, número de telefone e WhatsApp 0XX48 99940-2109. Por todos os motivos que explicamos aqui, sua informação é extremamente importante para a conservação dos meros.